Estava descendo a ladeira perto
de casa para trabalhar pleno feriado de Tiradentes, ainda com aquele
soninho de quem sabe que foi um dos poucos a acordar para o trampo, quando
olhei para o horizonte e lembrei-me de Paulo Coelho em “O Alquimista”, quando
ele fala que ao olharmos o horizonte nos deparamos com paisagens que, normalmente
não veríamos, já que na maior parte do tempo estamos preocupados em olhar para
nós mesmos. O fato é que, ao olhar para o horizonte, eu me deparei com um dos
prédios daquela região e, dentro dos muros, subindo alto eu vi uma palmeira,
tendo atrás de si o céu sendo tocado pelos primeiros raios do sol que nascia
naquele momento. Lembrei-me dos versos de Gonçalves Dias e os recitei baixinho:
“Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá...” Confesso que fiquei assim
emocionado sem saber por que, sem entender direito o motivo das lágrimas
ensaiarem apresentar-se nos meus olhos e ri, ri de emoção por saber que eu sei
sentir alegria, tristeza, melancolia, saudade... Sei sentir o compasso da vida,
sei ouvir o som da poesia e admirar pequenos momentos de beleza que podem fazer
a diferença no caminho a ser seguido.
Naquele momento nasceu em mim a
vontade de estar aqui digitando este texto, sem saber exatamente o que seria
escrito até o fim, mas tendo a certeza de que algo deveria ser registrado. São
de momentos assim que, talvez, sejam feitas as maiores descobertas do ser
humano... Momentos de contato consigo próprio, com o mundo, com a descoberta de
que fazemos parte de tudo e tudo o que existe tem uma relação com a nossa
existência. São tantas as cores da natureza, tantos prismas
modificando-se a cada segundo para que um espetáculo sem fim continue
apresentando-se diante de nós, tantas demonstrações de amor de um ser superior,
ao qual eu chamo Deus... Certa vez estava eu na praia, sentado numa pedra,
olhando o nascer do sol. Ele vinha por trás do mar, fazendo a água apresentar
tons prateados misturando-se com azul. As ondas estavam brancas como as poucas
nuvens que estampavam o céu. Era tudo tão lindo e ofuscava tanto o meu olhar,
mas eu não queria perder um segundo daquele momento mágico... Um querido amigo
meu, que morava por ali me disse as seguintes palavras: “Lindo, não é? Eu
acordo cedo todos os dias para vir assistir ele chegando e ele nunca faz
igual... A cada manhã eu vejo um nascer de sol mais lindo que o outro!” Não
esqueço estas palavras e confesso que agora mesmo ao me recordar daquela cena,
meus olhos lacrimejam.
Ouvimos tanto falar de desgraças e
atrocidades que acabamos por nos tornar consumistas de sangue e dor. Parece até
que no mundo não existem mais coisas boas para serem contempladas. A mídia em
geral descobriu que notícia boa não gera lucros, então lutam para ver quem será
o primeiro a trazer a próxima lastimável notícia ao conhecimento do grande
público, que infelizmente recebe uma descarga de tristezas e imoralidades e
acaba por se acostumar com tal cenário, esquecendo-se de que coisas lindas
ainda existem no nosso mundo e que, existem muito mais pessoas boas do que más.
Anteontem eu estava visitando uma amiga, quando a irmã dela chegou com sua
pequena Yasmim, de apenas 28 dias, tão pequenininha, linda. A pequenina dormia
e a mãe me disse: "Quer segurar ela?" A tomei em meus braços e fiquei
ali, babando como todos nós fazemos com os bebês ... Ela sonhava com alguma
coisa que a fazia sorrir e eu a observava rindo todo bobo ... De repende ela
abriu os olhos, verdes-oliva, e ficou me olhando com a inocência que só as
crianças têm. Eu fiquei ali pensando em como existem tantas coisas lindas ainda
para o ser humano se apegar ... As palmeiras, o céu, o canto dos pássaros, o
nascer do sol, o olhar inocente das crianças...
Minha terra tem palmeiras, minha
terra tem crianças, minha terra tem bondade, minha terra tem esperança...